terça-feira, 15 de março de 2011

Crise de referência e o cemitério de idéias


Não é triste mudar de idéias, triste  é não ter idéias para mudar.
(Barão de Itararé)
                  


      O que é a verdade? Perguntou Pilatos ao Cristo.
      O então “prisioneiro” Jesus enfiou o olhar na autoridade do Império Romano e, pondo-o no seu devido lugar, posicionou-se altivo, ofertando-lhe a mais sábia das respostas a cardeal questão: _... o silêncio.
      É, por certo, o silêncio mais enciclopédico da história da humanidade.
      Nestes tempos de farta comunicação, a moda é ser opiniático.
      Fosse hoje e Pilatos tivesse feito esta pergunta numa rede social, ficaria perturbado com a quantidade e diversidade de respostas professorais que receberia.
      Atualmente, todo mundo tem uma pitadinha para ofertar sobre os mais diversos assuntos. Não falo apenas de leigos, falo também de “especialistas” com suas visões micro do macro.
      Não raro, este tsunami de opiniões deságua no nada, na inutilidade.
      Antes, porém, deixa um rastro de dúvidas, de incertezas, de conceitos deturpados, de teorias infundadas e – o pior de tudo – consolida uma forma de pensar acrítica, açodada, intolerante, minimalista e muitas vezes tendenciosa.
      O que é verdade hoje, amanhã se revela uma farsa ou um erro grosseiro.
      Lado outro, não cansamos de ver o impossível tornar-se real e o que era irracional ser guindado ao rol das verdades óbvias.
      No campo das ideias, o terreno está cada vez mais movediço e não faltam teorias enfermas, em estado terminal, precisando da extrema-unção. A rigor, está cada vez mais difícil saber quem está com a razão. É este fenômeno pós-moderno que chamo de crise de referência.
      Todos os dias, diante de nossos olhos pululam cortejos fúnebres de “verdades” mortas. Diante de tantas “verdades” sem vida e insepultas e visando garantir a higiene psico-emocional de algumas mentes, resolvi criar este blog. Ele bem poderia ser chamado de cemitério de ideias. Mas resolvi dar-lhe um nome mais convidativo, mais provocante e, com isso, não afastar leitores medrosos e supersticiosos.Talvez tenham alguma razão, pois não é fácil sepultar uma ideia, uma teoria e, principalmente, aquelas que se diziam eternas por terem aprisionado a verdade. Muitas se tornam fantasmagóricas e vivem a assombrar os incautos, deixando-os confusos e vulneráveis à manipulação.
      A proposta é desmistificar fatos, identificar ideias e teorias enfermas, em estado terminal e as mortas-vivas, que precisam de um sepultamento digno.
      Não é, portanto, um blog para quem tem medo de rever suas “verdades”.
      É um espaço de reflexão para quem tem medo de ser vítima de uma ideia-morta, de uma tola ignorância ou de uma manipulação bem orquestrada.
      Ninguém busque aqui verdades absolutas ou comodidade intelectual.
      Pensar é, por natureza, um estado ambivalente. Enluta-nos sepultar ideias e regozija-nos ajudar a concebê-las seminais e pô-las em parto.
     

                 

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